UBE Blogs

UBE Blogs

domingo, 15 de julho de 2018

Série de estudos "Cristianismo e Liberalismo" - 6ª parte



por:
José Augusto de Oliveira Maia
09.07.2018


INTRODUÇÃO

Encerramos a 5ª parte de nosso estudo(*), na qual estudamos a importância da confrontação entre os ensinos do Liberalismo Teológico e as doutrinas cristãs fundamentais, afirmando que "a atuação do Espírito Santo honrará a fiel proclamação da Palavra de Deus, trazendo pecadores ao arrependimento."; a importância da Bíblia como Palavra de Deus em oposição ao engano do Liberalismo Teológico é o tema do presente estudo.

AS DUAS REVELAÇÕES DE DEUS

Encontramos na Bíblia dois tipos de revelação: a revelação natural e a revelação especial.

A revelação natural, através da qual Deus se faz conhecido em toda Sua Criação, é apresentada pelo apóstolo Paulo no início de sua carta endereçada aos cristãos de Roma (Romanos 1:18 - 20; compare com Amós 4:13); ainda exemplificando a revelação natural, temos o texto dos Salmos: "Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos." (Salmo 19:1). Assim, a revelação natural de Deus está presente em Sua Criação, na qual podemos conhecer algo de "Seu eterno poder e Sua natureza divina".

Porém, afirma nosso autor, "a Bíblia também contém o relato de uma revelação absolutamente nova. Essa nova revelação diz respeito ao modo pelo qual pecadores podem entrar em comunhão com o Deus vivo. O caminho foi aberto, de acordo com a Bíblia, por uma ação de Deus, quando fora dos muros de Jerusalém, há quase dois mil anos, o Filho eterno foi oferecido como sacrifício pelos pecados dos homens. O Antigo Testamento olha antecipadamente para esse grande evento, e sobre esse único evento, todo o Novo Testamento encontra seu centro e cerne. Portanto, a salvação, na Bíblia, não é algo que foi descoberto, mas algo que aconteceu. Aí reside o aspecto incomparável da Bíblia. Todas as ideias do Cristianismo poderiam ser encontradas em alguma religião diferente, e ainda assim não haveria o Cristianismo nessa outra religião, pois o Cristianismo não depende de um compêndio de ideias, e sim da narração de um evento. Sem esse evento, de acordo com o Cristianismo, o mundo é totalmente escuro, e a Humanidade está perdida debaixo da culpa do pecado. Não pode existir salvação pela descoberta da verdade eterna, pois a verdade não traz nada a não ser desespero, por causa do pecado. No entanto, algo novo foi introduzido na vida, por meio daquela grande benção que aconteceu, quando Deus ofereceu seu único Filho." (páginas 63 e 64).

O Liberalismo Teológico (LT), porém, opõe-se a essa perspectiva do conteúdo bíblico, criticando a dependência de nossa salvação em relação a um evento tão antigo; "A salvação tem que esperar até que estes relatos sejam bem analisados? (...) Em vez disso, não podemos achar uma salvação que é independente da história, uma salvação que depende somente daquilo que temos aqui e agora?" (página 64).

Tal objeção ignora a evidência do Evangelho na experiência cristã; "A salvação realmente depende do que aconteceu muito tempo atrás, mas esse evento de muito tempo atrás tem efeitos que continuam até hoje. É-nos dito, no Novo Testamento, que Jesus se ofereceu como sacrifício pelos pecados daqueles que iriam crer nele. Esse é o relato de um evento passado. Porém, podemos experimentá-lo hoje, e ao experimentá-lo, descobrimos que é verdadeiro. É-nos dito, no Novo Testamento, que em certa manhã, muito tempo atrás, Jesus ressuscitou dos mortos. Mais uma vez, esse é o relato de um evento passado. Mais uma vez, podemos experimentá-lo hoje, e ao fazê-lo, descobriremos que Jesus realmente é um salvador vivo hoje." (página 64).

O erro do LT é entender e ensinar que a experiência cristã individual é tudo de que necessitamos hoje; "Ter uma experiência presente de Cristo no coração, dizem, não deveria ser defendido, não importa o que a História nos diz sobre os acontecimentos da primeira manhã da páscoa? Não deveríamos nos fazer totalmente independentes dos resultados do estudo bíblico crítico? Não importa que tipo de homem a História nos diga que Jesus de Nazaré foi, não importa o que a História nos diga sobre o real significado de sua morte, ou sobre a história de sua suposta ressurreição, não deveríamos continuar experimentando a presença de Cristo em nossas almas?" (página 65).

Contudo, Machen adverte que esta experiência pode até ser religiosa, mas não é uma experiência cristã; "a experiência cristã depende totalmente de um evento. O cristão fala a si mesmo: 'Eu meditei sobre o problema de como permanecer justo diante de Deus, tentei produzir uma justiça que prevalecerá diante dele; no entanto, quando ouvi a mensagem do Evangelho, aprendi que o que eu lutei para conquistar na minha fraqueza, já foi conquistado pelo Senhor Jesus Cristo, quando ele morreu por mim na cruz, e completou sua obra redentora pela gloriosa ressurreição. Se a salvação ainda não foi realizada, se somente tenho uma vaga ideia do que foi conquistado, então eu sou o mais miserável de todos os homens, pois ainda estou sob meus pecados. Portanto, minha vida cristã depende totalmente da verdade do relato do Novo Testamento'." (página 65).

A experiência cristã só é válida se ajuda a nos convencer da veracidade dos relatos do Novo Testamento; porém, se cortarmos seus vínculos com a narrativa do Evangelho, a experiência cristã por si só não se sustenta.

INSPIRAÇÃO PLENA x DITADO MECÂNICO

Com o objetivo de enfraquecer a autoridade da Bíblia como Palavra de Deus, a pregação liberal ataca a doutrina da inspiração como sendo uma inspiração mecânica.

Porém, a doutrina cristã da inspiração plena das Escrituras defende:

* que a individualidade dos autores humanos é preservada

* que os autores humanos fizeram uso de meios comuns a fim de obter informações para escrever suas narrativas (Lucas 1:1 - 4)

* que seja considerado o contexto histórico em que cada livro foi produzido

Estes aspectos da doutrina da inspiração plena das Escrituras estão em franca oposição ao conceito de uma inspiração mecânica
(1).

Por sua vez, o L. T. substitui a doutrina da inspiração plena da Bíblia e sua autoridade por uma aparente escolha pela exclusiva autoridade das falas de Jesus nos Evangelhos, desprezando o ensino contido nas epístolas.

No entanto, as palavras de Jesus preservadas no Evangelho apontam "para a frente, para uma mais completa revelação, que deveria ser dada posteriormente, pelos seus apóstolos." (página 69) (veja João 15:26; 16:7 - 15); tais palavras de Jesus, dando autoridade aos textos apostólicos, ofendem os liberais pois colocam em xeque suas ideias pré-concebidas.

O LT rejeita o propósito de vida de Jesus revelado nas Escrituras - dar Sua vida em resgate de muitos (Marcos 10:45) - e em seu lugar, colocam "elementos no ensino de Jesus - isolados e mal-interpretados - que acabam concordando com os preceitos modernos." (página 70); assim, a verdadeira autoridade aceita pelo LT são seus próprios conceitos, que escolhem como válidas apenas as falas de Jesus que concordam com eles.

Enquanto o cristão encontra na Bíblia a Palavra de Deus como autoridade sobre sua vida, a verdadeira autoridade para o LT são seus próprios princípios. "Não é uma grande surpresa o fato de o Liberalismo ser totalmente diferente do Cristianismo, pois a fundação é diferente. O Cristianismo é fundamentado na Bíblia, baseia-se na Bíblia tanto em seu pensamento como em sua vida. O Liberalismo, por outro lado, é fundamentado nas variáveis emoções do Homem pecaminoso." (página 70).

(*) MACHEN, John Greshan "Cristianismo e Liberalismo" - Shedd Publicações - tradução Caio Cesar Dias Peres - 1ª edição - 2012

(1) acerca da doutrina da inspiração das Escrituras, veja o excelente texto de WARFIELD, B. B. "A inspiração e autoridade da Bíblia", Editora Cultura Cristã, 1ª edição, 2010, páginas 106 a 134; e também STOTT, John "Homens com uma mensagem", Editora Cristã Unida, 1996, páginas 7 e 10