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segunda-feira, 24 de junho de 2019

Série de estudos "Cristianismo e Liberalismo" - 9ª e última parte



por:
José Augusto de Oliveira Maia
20.06.2019


No penúltimo estudo desta série, Machen(1) contrapõe a doutrina cristã sobre a salvação das almas aos ensinos liberais sobre o tema; enquanto os teólogos e pastores liberais ensinam a confiança na capacidade humana para a construção de um mundo melhor, reduzindo o sacrifício de Cristo a um mero e bom exemplo, a pregação cristã proclama a morte de Cristo como o sacrifício em prol da redenção da Humanidade, através do qual o amor de Deus Pai pela Humanidade executa Sua justiça sobre a pessoa de Deus Filho, pagando ele mesmo o preço exigido para nossa reconciliação com Deus.

Neste último estudo, veremos as dificuldades enfrentadas pelos cristãos contra a invasão das igrejas pelos liberais, e os riscos que isso traz para nós até o dia de hoje.

LIBERALISMO TEOLÓGICO - DO SEMINÁRIO PARA O PÚLPITO

Os princípios liberais apresentados na primeira parte de nossa série - a) rejeição da autoridade da Bíblia como Palavra de Deus; b) a imanência de Deus no indivíduo humano; c) a paternidade universal de Deus; d) negação do nascimento virginal, dos milagres e da ressurreição corpórea de Cristo; e) escatologia que se cumpre na evolução do Homem, em direção à salvação da sociedade, negando-se o juízo sobre a Criação como ensinado no Apocalipse de João - desenvolveram-se ao longo do século XIX e invadiram os seminários teológicos no início do século XX; diversos pastores formados nestes seminários levaram seus ensinos para os púlpitos de suas igrejas, ao mesmo tempo em que trabalhavam para excluir os cristãos ortodoxos, ou como eram chamados, fundamentalistas, de sua direção; o material das Escolas Dominicais foi formatado segundo conceitos da evolução humana e da educação religiosa com base em princípios liberais, de tal forma que a formação cristã, e não a conversão a Cristo, fosse a base da vida dos futuros membros das igrejas(2).

É justamente este o ponto, e suas consequências negativas para o Reino de Deus, a causa do Evangelho de Cristo e a Igreja de Cristo e denominações cristãs, de que Machen trata no último capítulo de seu livro. 

A PATERNIDADE DE DEUS E A FRATERNIDADE CRISTÃ

Este é um ponto fundamental no qual cristãos e liberais não podem concordar; enquanto o liberalismo teológico (LT), baseado nos princípios humanistas e iluministas, afirma que todos somos irmãos e igualmente filhos de Deus, o cristianismo, fundamentado na Bíblia, reconhece a dependência humana de um único Criador e a realidade de uma mesma natureza comum a todos os Homens; porém, o senso de fraternidade cristã e da paternidade de Deus são exclusivos dos convertidos a Cristo (João 1:10 - 13; 20:31).

Assim, contrário ao LT, cuja esperança se baseia no aprimoramento humano em lidar com as questões terrenas, o cristianismo põe sua esperança no novo nascimento, criando um novo ser e uma nova fraternidade (João 3:3).

CRISTÃOS, LIBERAIS E A IGREJA LOCAL

Machen define a igreja local, institucional e visível como expressão humana da igreja de Cristo, a verdadeira companhia dos remidos; "A igreja invisível, a verdadeira companhia dos redimidos, encontra sua expressão na comunhão dos cristãos que constituem a igreja visível hoje." (pág. 134); porém, no início do século XX, a comunidade cristã local / denominacional vinha se enfraquecendo ao aceitar falsos cristãos não somente como membros, "mas também no ministério da igreja, e, de forma crescente, têm recebido permissão para dominar os concílios e determinar o seu ensino. A grande ameaça à igreja de hoje não vem de seus inimigos externos, e sim dos inimigos internos; vem da presença, dentro da igreja, de pessoas cuja fé e prática são totalmente anticristãs." (pág. 135).

Até este ponto de nosso estudo, ficou demonstrado que cristianismo e liberalismo não são a mesma coisa, e conforme Machen asseverava em sua época, "é altamente indesejável que o liberalismo e o cristianismo devam continuar sendo propagados dentro dos limites da mesma organização. A separação das duas partes dentro da igreja é a necessidade mais premente deste momento." (pág. 135).

A união buscada pelos liberais dentro de uma mesma igreja com seus membros cristãos baseia-se em ideias frágeis e vulneráveis; pois, enquanto os liberais dizem: "Vamos nos unir na mesma congregação, afinal, as diferenças doutrinárias são frívolas", para o cristão novamente nascido, a cruz de Cristo e sua mensagem, rejeitada pelo LT, não é mera frivolidade. 

Além das diferenças doutrinárias, a atitude desonesta dos liberais, insistindo em fazer parte de uma igreja e de seu ministério, é um perigo para a igreja; porém, esta crítica de Machen não era dirigida contra aqueles que, membros das igrejas confessionais, lutavam com suas dúvidas em busca da verdade; mas dirigia-se àqueles que "se orgulham da posse do conhecimento deste mundo, e buscam um lugar no ministério, onde possam ensinar o que é diretamente contrário à confissão de fé à qual se submeteram." (pág. 138).

Além disso, os liberais insistiam em permanecer nas igrejas históricas e confessionais como forma de acessar e manipular seus recursos na propagação de ideias contrárias à fé cristã.

"Não é uma questão de tolerância e sim de desonestidade, para uma organização fundada com o propósito fundamental de propagar uma mensagem, comprometer seus recursos e seu nome com aqueles que estão engajados em combater essa mesma mensagem." (pág. 142)

A POSTURA NECESSÁRIA À IGREJA

A batalha pela fé cristã necessita não só do empenho na proclamação do Evangelho, mas também na defesa intelectual do Evangelho; "Já houve, anteriormente, grandes crises na história da igreja, crises quase comparáveis a essa. Uma apareceu no século II, quando a própria existência do cristianismo foi ameaçada pelos gnósticos. Outra surgiu na Idade Média, quando o evangelho da graça de Deus parecia ter sido esquecido. Em tempos de crise, Deus sempre salvou a igreja. Mas ele sempre a salvou pelos teimosos defensores da verdade, e não pelos pacifistas teológicos." (pág. 146).

Por outro lado, os candidatos ao ministério devem ser bem avaliados em sua honestidade quanto à aderência às doutrinas cristãs fundamentais; a escolha dos ministros deve centrar-se em sua fidelidade às Escrituras; "As pessoas têm perecido sob as ministrações daqueles que 'não negam' a cruz de Cristo. Porém, algo mais que isso é necessário. Deus, envia-nos ministros que, em vez de evitar a negação da cruz, estejam fervorosos pela cruz, cujas vidas sejam sacrifícios vivos de gratidão ao abençoado Salvador que os amou e se entregou por eles!" (pág. 147). 

Por último, a igreja deve combater a ignorância a respeito do cristianismo dentro de seus próprios portões; essa ignorância "é o resultado lógico e inevitável da falsa noção de que o cristianismo é um estilo de vida, e não uma doutrina; se o cristianismo não é uma doutrina, o ensino, obviamente, não é necessário para o cristianismo." (pág. 148); mas, como doutrina, o cristianismo deve ser não só constantemente proclamado, mas também ensinado em suas afirmações e implicações práticas.

"Leigos, assim como ministros, devem retornar, com uma nova firmeza, ao estudo da Palavra de Deus nestes dias." (pág. 149); não ignoramos os muitos perigos enfrentados; mas, apesar das muitas dificuldades enfrentadas, nossa esperança está sobre as promessas preciosas de Deus.
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(1) MACHEN, John Greshan "Cristianismo e Liberalismo" - Shedd Publicações - tradução Caio Cesar Dias Peres - 1ª edição - 2012 

(2) CAIRNS, Earle E. "O cristianismo através dos século" - Ed. Vida Nova - tradução Israel Belo de Azevedo, Valdemar Korker - 2ª edição - 2008 - páginas 466, 484 - 487