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terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

E se Isaque tivesse abençoado Esaú?


por:
José Augusto de Oliveira Maia
09.02.2020


Ouvi há poucos dias a questão, título deste artigo, ser formulada por um pastor: "E se Isaque tivesse abençoado Esaú?" O ponto que me preocupou não foi tanto a pergunta, mas a resposta, ainda que elaborada superficialmente, apresentada pelo pastor; e, segundo ele, se isso tivesse acontecido, Deus teria abençoado os descendentes de Esaú, e não a nação de Israel, descendentes de seu irmão, Jacó.

Confesso que fiquei horrorizado com essa resposta; e, profundamente entristecido com o erro doutrinário contido nela, decidi escrever este artigo, para deixar claro o que a Palavra de Deus ensina.

O contexto do nascimento de Esaú e Jacó

Em Gênesis 25:19 - 26, lemos a história da concepção e do nascimento de Esaú e Jacó; Rebeca, incomodada pela agitação constante entre as crianças ainda não nascidas, foi consultar o Senhor (v. 22); e a resposta de Deus, clara como água, foi que "o mais velho servirá ao mais novo" (v. 23).

Chegada a hora do parto, nasce o primeiro, o mais velho, que recebe o nome de Esaú, e depois seu irmão, mais novo, cujo nome ficou sendo Jacó (vs. 25 e 26).

Portanto, pelo relato acima, fica evidente que Deus de antemão decidira escolher Jacó, posteriormente designado por Deus como Israel (Gênesis 32:22 - 28), em lugar de Esaú, o filho mais velho, como herdeiro das promessas feitas a Abraão, seu avô (Gênesis 12:1 - 3; 13:14 - 17; 15:1 - 5), e continuador de sua descendência.

Com isto concordam as Escrituras, como encontramos em Malaquias 1:1 - 3, texto citado por Paulo em Romanos 9:11 - 13: "Amei Jacó, mas rejeitei Esaú".

Assim, o primeiro ponto a ressaltarmos aqui é que a escolha e a benção de Deus sobre Jacó em detrimento de Esaú dependeram exclusivamente da soberana vontade de Deus, e não de esforços ou esquemas humanos.

Isaque - o desejo de abençoar Esaú


Recorrendo ao teólogo F. F. Bruce em seu "Comentário Bíblico NVI"(1), encontramos a afirmação de que "as orientações de um moribundo tinham força de lei na cultura daqueles dias"; ainda segundo Bruce, o esquema planejado por Rebeca e executado por ela e Jacó recebeu como castigo o afastamento definitivo entre mãe e filho, os quais nunca mais se reencontraram.

Ainda recorrendo a outro comentarista, Derek Kidner(2) ressalta a responsabilidade de Isaque, mesmo sabedor do oráculo pré-natalício dos gêmeos em favor de Jacó, em tentar manter sua benção paternal sobre Esaú; de igual forma, tanto Rebeca quanto Jacó carregam sua parcela de culpa, adotando uma atitude desprovida de fé na promessa de Deus e de amor pelo patriarca; quanto a Esaú, que já vendera com juramento seu direito à primogenitura para Jacó (Gênesis 25:29 - 34), aceitou a proposta do pai, quebrando seu juramento.

De qualquer forma, embora o desejo do pai de abençoar o filho primogênito, conforme a tradição do patriarcado sob o qual a família vivia, fosse legítimo, devemos considerar que tanto Isaque quanto Rebeca conheciam há muitos anos a vontade expressa de Deus sobre o assunto, e a obediência humilde de Isaque tornaria desnecessária a armação de Rebeca; por outro lado, ressaltando o que já tratamos na primeira parte deste artigo, a vontade de Deus seria cumprida de qualquer forma.

Destacamos, portanto, como segundo ponto fundamental, que não foi o esquema armado por Rebeca, nem a oração de Isaque, que garantiram a benção divina sobre Jacó, o qual já contava com ela desde antes de seu nascimento. Porventura, teria Deus a necessidade de uma "ajudazinha" humana para cumprir qualquer um de seus propósitos? (Isaías 43:13)

Os planos de Deus não podem ser impedidos

Mas, e se Isaque houvesse feito, como planejara, a oração de benção sobre Esaú? O que aconteceria? A resposta, simples e clara, é que não aconteceria absolutamente nada.

Em primeiro lugar, e mais importante, Deus já havia determinado abençoar Jacó, e não Esaú, para dar continuidade à descendência de Abraão, de onde viria o Cristo, humanamente falando; Deus não mudaria seus propósitos, nem alteraria seus planos; se assim fosse, jamais poderíamos descansar na fidelidade de Deus (Malaquias 3:6).

Em segundo lugar, Deus não precisa do Homem para qualquer coisa que seja; ainda que Deus use as pessoas, como usou servos do passado como Moisés, Davi ou Jeremias, Ele se basta a si mesmo; assim, o esquema montado por Rebeca e executado por Jacó não teve qualquer influência para os planos de Deus; Ele havia escolhido Jacó, Sua benção estava com ele, e nada mudaria isso (Números 23:8, 19, 20).

E, em terceiro e último lugar, se Isaque houvesse abençoado Esaú, não seria a oração de benção que obrigaria Deus a mudar seus planos; pense que situação ridícula, Deus ter decidido antes do nascimento dos gêmeos abençoar Jacó, e depois ser pego totalmente de surpresa pela oração de Isaque, que O comprometeria a mudar Sua determinação, rejeitar Jacó e abençoar Esaú; este não seria o Deus da Bíblia.

A soberania de Deus é imutável; portanto, podemos declarar sem dúvida que a benção de Deus sobre Jacó não dependeu do esquema de Rebeca, nem seria afetada pela oração de Isaque, mas estava absolutamente determinada pelo propósito eterno de Deus (Salmo 33:10, 11).



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(1) - BRUCE, F. F. "Comentário Bíblico NVI" - tradução Valdemar Kroker - Editora Vida - 2ª edição, 2012 - página 139

(2) - KIDNER, Derek "Gênesis - introdução e comentário" - tradução Odayr Olivetti - Editora Vida Nova - 1ª edição, 1979; reimpressão, 2011 - página 144