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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Santos na Bíblia, santos no altar

por: José Augusto de Oliveira Maia
21.06.2013
INTRODUÇÃO
O propósito deste texto é estudar a aplicação do termo santo a pessoas na Bíblia, e verificar a evolução histórica do uso deste termo na Igreja Católica dos primeiros séculos. A versão básica adotada do texto bíblico será a Nova Versão Internacional (NVI).
O SIGNIFICADO DO TERMO SANTO
Para fins deste breve estudo, podemos usar uma das definições – entre tantas outras – dadas pelo Dicionário de Português Online Michaelis (http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/santo%20_1041414.html)(1); “Que vive conforme a lei de Deus; que inspira benevolência e piedade; bondoso; que cumpre com todo o escrúpulo, com a maior exatidão, os seus deveres religiosos e morais; virtuoso.”.
A OCORRÊNCIA DO TERMO SANTO NA BÍBLIA
O termo santo na Bíblia, aplicado diretamente a pessoas, seja no singular ou no plural, aparece cerca de 120 vezes; eventualmente, pode ser traduzido por sinônimos como consagrado ou fiel; o termo também aparece outras tantas vezes atribuído a Deus, a objetos cerimoniais no Antigo Testamento (A. T.), a lugares e datas, mas estas ocorrências não são o nosso foco aqui.
O termo é usado amplamente, no A. T. e no Novo Testamento (N. T.), aplicado ao povo de Deus; algumas passagens servem de exemplo (Êxodo 22:31; I Samuel 21:5; Salmo 16:3; Isaías 4:3; Daniel 7:18; Mateus 27:52; Atos 9:32; Romanos 12:13; I Pedro 1:15; Apocalipse 14:12).
Frequentemente, Lucas faz uso do termo no livro de Atos para designar os irmãos em Cristo nas comunidades cristãs primitivas; o apóstolo Paulo faz o mesmo uso em suas epístolas; os cristãos são chamados para serem santos (Romanos 1:7), vivendo de maneira digna de Deus (Efésios 5:3). Em nenhum momento o termo é usado para uma classe especial de pessoas dentro da comunidade cristã. Todos os cristãos são chamados de santos.
O chamado para a santificação tem sua origem no sacrifício de Cristo (Hebreus 2:11; 9:13,14; 10:10); no entanto, o desenvolvimento deste chamado envolve a fidelidade a Deus por parte do cristão; isto pode ser visto na pureza - e não na abstinência - sexual (I Tessalonicenses 4:3 – 8); num viver pacífico (Hebreus 12:14) e marcado por atitudes dignas de Deus (Filipenses 4:8,9). Ou seja, dada a contaminação da nossa natureza pelo pecado, o processo de santificação inicia-se na vida dos filhos de Deus por aquele que é santo – Cristo – e que, consequentemente, nos capacita a um viver santo (Filipenses 2:12 – 16).  
No Apocalipse, o termo aparece empregado àqueles que sofrem o martírio em função da perseguição, promovida contra eles por pessoas do mundo, que rejeitam a mensagem do Evangelho de Cristo, e por consequência, aqueles que creem nessa mensagem (Apocalipse 16:5,6; 17:6; 18:20).
Finalizando, antes de passarmos à História, ressalvamos que, em algumas passagens do A. T., o termo santo é aplicado não a seres humanos, mas a seres celestiais; como exemplo, queira ver Jó 5:1, Daniel 4:13 e 8:13(2).
NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO
Durante o período de perseguição contra os cristãos pelo Império Romano até o início do século IV, as comunidades eclesiásticas desenvolveram a prática de celebrar a data do martírio destes irmãos, usando seu exemplo como forma de fortalecer aqueles que sofriam perseguições. A dedicação extrema destes mártires à fé, selando com o próprio sangue seu testemunho, levou os cristãos daquela época a venerar tanto estas pessoas como seus objetos pessoais.
Orígenes (185 – 254), teólogo da igreja de Alexandria, no Egito, defendia a ideia de uma comunhão existente entre os cristãos e os mártires que estavam na glória; uma vez que, estando vivos, oravam por seus irmãos aqui na Terra, com certeza, estando glorificados no céu, também intercederiam por eles. Este mesmo pensamento foi compartilhado por Jerônimo (340 – 420), teólogo italiano.
Cirilo (313? – 386), bispo de Jerusalém, trouxe para a liturgia dos cultos a celebração dos mártires, para que intermediassem as orações dos fiéis junto a Deus.
Gregório de Nazianzo (329 – 389), bispo de Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), ensinava às pessoas que, quando recebessem de Deus algum castigo, recorressem à intermediação dos santos; João Crisóstomo (347 – 407), outro bispo de Constantinopla, também defendia o mesmo ponto de vista.
O papa Leão I, que dirigiu a Igreja entre 440 e 461, pregava que os santos haviam sido designados por Deus para exemplo e proteção dos cristãos(3).
Desde os primeiros tempos do cristianismo, ilustrações de passagens bíblicas, apresentando personagens como Adão e Eva, Noé, Daniel, eram usadas para ensinar a Palavra de Deus, especialmente para aqueles que não sabiam ler; com a expansão do Evangelho entre os bárbaros pagãos que invadiram o Império Romano, o hábito destes povos de celebrarem seus heróis através de imagens começou a penetrar na Igreja, e foi associado à veneração que era prestada aos mártires.
O papa Gregório I (590 – 604), apoiava o uso de ilustrações como forma de ensino, mas proibia a adoração de imagens; em 725, o imperador bizantino Leão III iniciou uma campanha de destruição dessas imagens, e seu filho, Constantino V, proibiu o uso delas nos cultos em 754; em oposição a este movimento, o teólogo João Damasceno, da igreja síria, defendia a utilização das imagens nos cultos, especialmente de Jesus, como forma de preservar a doutrina da encarnação de Cristo.
Em 787, a imperatriz bizantina Irene convocou um concílio, no qual os bispos estabeleceram uma distinção entre a veneração prestada aos santos, e a adoração que deveria ser prestada somente à Trindade – Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo – e a partir daí, as imagens foram finalmente aceitas nos cultos. Este concílio passou à História como o Concílio de Niceia II, o sétimo concílio ecumênico(4).
Hoje, o processo de reconhecimento de alguém como santo pela Igreja Católica passa por três fases:
·       Veneração: este estágio é alcançado pela pessoa que tenha uma comprovada atitude heroica em defesa da fé; a pessoa é declarada por Roma como venerável
·       Beatificação: caso sejam comprovados dois milagres atribuídos ao venerável, este é declarado beato, e passa a receber veneração dos católicos, porém, restrita a  sua região; sua celebração é autorizada, mas não compulsória para toda a Igreja
·       Canonização: caso haja comprovação de mais dois milagres atribuídos ao beato, ele é declarado pelo papa como santo; seu culto passa a ser obrigatório para toda a Igreja
Um órgão da Igreja Católica, a Sagrada Congregação dos Ritos, é responsável pela condução destes processos; de início reconhecidos como santos por aclamação pública, somente a partir do papa Alexandre III (1.159 – 1.181) estes processos começaram a ser conduzidos com maior rigor; para aperfeiçoá-los, contribuiu também o papa Urbano VIII (1.623 – 1.644); o Concílio Vaticano I (1.870) definiu a canonização como ato papal infalível(5).
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https://www.clubedeautores.com.br/book/181552--A_FE_CRISTA?topic=teologia#.V9g4Yh4rLIU



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https://www.youtube.com/watch?v=9UTr0MVZbpQ



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1)        consultado em 19/06/2013
2)       – conforme comentários bíblicos de Jó por Francis I. Andersen, e de Daniel por Joyce G. Baldwin, publicados pela Editora Vida Nova, edição 2011
3)       – KELLY, J. N. D.  “Doutrinas Centrais da Fé Cristã” – Ed. Vida Nova – Tradução de Márcio Loureiro Redondo – 1993 – pg. 374 a 382
4)       – GONZÁLES, Justo L. “E até os confins da terra: uma história ilustrada do cristianismo” – Ed. Vida Nova – 1ª edição, reimpressão de 2007 – vol. 3, pg. 111 a 114; ELWELL, Walter A. “Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã” – Tradução de Gordon Chown - Ed. Vida Nova – 1ª edição, reimpressão em 1 volume, 2009 – volume 2, pg. 314
5)       – ELWELL, Walter A. “Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã” – Tradução de Gordon Chown - Ed. Vida Nova – 1ª edição, reimpressão em 1 volume, 2009 – volume 1, pg. 164 e 232; Dicionário Prático da edição ecumênica da Bíblia Católica, enciclopédia Barsa, 1972, pg. 45  


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