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domingo, 23 de fevereiro de 2014

O mistério e a luz sobre os sacramentos



por: José Augusto de Oliveira Maia
21.02.2014


O objetivo deste texto é  apresentar  qual a definição dos sacramentos da Igreja; como eles surgiram, e como a compreensão sobre eles evoluiu ao longo da História do cristianismo; e qual o impacto disso tudo sobre a vida dos cristãos hoje.

A definição de sacramento

Originalmente, o termo sacramento define um rito ou cerimônia religiosa cristã. Jesus Cristo instituiu os ritos do batismo (Mateus 28:19) e da ceia (Lucas 22:19), que na Igreja Primitiva tinham parte nos cultos juntamente com a proclamação do Evangelho e o ensino da Palavra de Deus; ambos simbolizavam a comunhão do cristão com Cristo em Sua morte e ressurreição, e eram fundamentos importantes do culto, como ilustração da mensagem do Evangelho. A morte e a ressurreição do Senhor, ocorridas uma única vez, são eficazes para a salvação (Hebreus 9:28), e portanto, o valor dos ritos é apenas didático e rememorativo do sacrifício de Cristo e da salvação por ele concedida.

Na História do cristianismo

O mistério desta comunhão, do grego "mysterion", foi substituído pelo latim "sacramentum", cujo significado é "separado como santo"; o rito perdeu o significado original, passando a ser considerado como "meio de graça", capaz de conceder por si mesmo favor aos que dele participam. A Igreja Católica instituiu outros cinco sacramentos: confirmação, penitência, extrema unção, ordens e matrimônio.

O Concílio de Trento (1.545 - 1.563) definiu a eficácia do sacramento, através do termo em latim "ex opere operato", isto é, com base na obra feita; ou seja, a pessoa recebe graça de Deus através da correta ministração do sacramento pela Igreja.

Mas a Bíblia...

Dificilmente podemos usar os textos da Bíblia para defender o conceito de que o rito sacramental, qualquer que seja ele, possa conceder graça ou benção a quem quer que participe deles; mesmo Cristo, quando instituiu o batismo e a ceia, não atribuiu a eles quaisquer poderes, ou deu qualquer sinal que eles seriam usados por Deus para abençoar as pessoas mediante a simples participação ritualística.

Em relação à ceia, o Senhor Jesus apenas disse: "Isto é o meu corpo, dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim; ... este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês." (Lucas 22:19, 20); ora, sabemos que não foi aquele pedaço de pão, nem o vinho contido no cálice, que foram pregados na cruz e derramados no Gólgota, mas sim a carne e o sangue de Jesus Cristo; ressaltando as palavras "façam isto em memória de mim", Jesus deixa claro que o objetivo do rito era um memorial daquilo que ele faria no Calvário.

Complementando isso, o apóstolo Paulo refere-se à celebração da ceia como memorial, e por causa disso, uma proclamação da morte do Senhor (I Coríntios 11:25, 26).

Concernente ao batismo, o Senhor disse: "Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"..."Quem crer e for batizado, será salvo, mas quem não crer, será condenado"..."Quem nele (no Filho) crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado" (Mateus 28:19; Marcos 16:16; João 3:18).  A fé é o elemento chave para a salvação, não o rito do batismo, pois a falta de fé condenaria a pessoa, independente da realização do batismo; confirma isto o fato de o ladrão na cruz ter sido salvo, sem batismo, mas mediante a fé que manifestou em Jesus.

Corroborando este princípio de que é a fé que salva, o evangelista João escreveu: "Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e crendo, tenham vida em Seu nome." (João 20:31).

Além destas passagens relativas ao batismo e a ceia, cumpre observarmos outros exemplos bíblicos de que a graça e a benção de Deus não estão presas a ritos, símbolos ou tradições:

  • Em I Samuel 4, vemos o relato de que Israel foi derrotado diante dos filisteus, mesmo com a presença da arca da aliança entre o exército, devido aos pecados dos sacerdotes Hofni e Fineias e do povo em geral; Deus não estava na arca, e não pode conviver com o pecado e a rebelião

  • Mesmo a circuncisão, dada por Deus a Abraão e a seus descendentes, como sinal da aliança (Gênesis 17:1 - 14), era imperfeita se limitada meramente ao ritual, sem a regeneração do coração (Romanos 2:28, 29; Deuteronômio 10:16; Jeremias 9:25, 26; Ezequiel 44:7,9; Atos 7:51)

  • Em Lucas 18:9 - 14, o fariseu da parábola de Jesus não recebeu o perdão de seus pecados, apesar de toda a obediência à Lei que ele praticava; sua condenação era certa, pois sua fé estava em seus méritos, mas não nAquele que tem o poder de perdoar pecados

  • Tiago, em 5:14,15, alerta-nos de que a oração da fé salvará o doente, e não o óleo da unção; Pedro foi usado por Deus para curar Enéas mesmo sem usar o óleo para ungi-lo (Atos 9:32 - 34); não há referência à unção com óleo nas curas que Deus realizou por meio de Filipe entre os samaritanos (Atos 8:5 - 7)

E no século XVI...

Os reformadores, a partir de Martinho Lutero, mas também Calvino, Knox e outros, adotaram uma outra postura em relação aos sacramentos; primeiramente, definiram como sacramentos biblicamente aceitáveis apenas o batismo e a ceia, por terem sido ordenados por Jesus; os demais, instituídos pela Igreja Católica, foram rejeitados como sacramentos, embora a celebração do casamento permaneceu, como símbolo da união abençoada por Deus, entre homem e mulher.

O princípio de que a correta ministração dos sacramentos pela Igreja seria suficiente para conceder graça aos participantes também foi rejeitado, uma vez que a fé é necessária - "Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que Ele existe e recompensa aqueles que O buscam. (Hebreus 11:6) - e que Deus, como vimos pelos textos bíblicos, não está preso a rituais ou tradições; a pessoa que busca a Deus, crendo na intermediação do único intermediário posto por Deus, Jesus Cristo, recebe Sua graça.

Mas, e hoje?

Alguém poderia perguntar como estes conceitos e esta História aplicam-se aos nossos dias; infelizmente, parece que nossa natureza carnal e pecadora depende tremendamente da visualização de algo, para que depositemos nossa fé.

Lamentavelmente, vemos igrejas que, pelo simples fato de não serem católicas são chamadas de "evangélicas", usarem de rituais que em muitas coisas lembram os princípios adotados pela Igreja Católica em sua doutrina sobre os sacramentos; então, uma oração feita pelo Apóstolo Fulano, a rosa ungida no Monte Não Sei Onde, o copo de água ao lado da TV ou do rádio durante o programa tal, e outras coisas semelhantes a estas, são oferecidas as pessoas (e às vezes, mediante pagamento) como meio de se alcançar uma benção especial de Deus; se isto não é idolatria e paganismo, travestido de Evangelho de Cristo, então o que seria?

Tais igrejas e pregadores inventam doutrinas falsas, sem base bíblica consistente, sobre pecado, maldição hereditária, curas de doenças, solução de problemas, doutrinas de prosperidade, e tem usado isso como armadilha para prender pessoas imprudentes, que não se empenham em conhecer a Verdade que pode libertá-los, presente na Bíblia. Fazem como os fariseus e mestres da Lei do tempo de Jesus, que percorriam o mar e a terra para converterem alguém à religião deles, e depois, o faziam filho do inferno duas vezes mais do que eles próprios (Mateus 23:15); sobre eles, a condenação da Palavra de Deus, se não se arrependerem!  

Mesmo sem meios materiais, muitos cristãos sinceros às vezes creem que um determinado culto é mais poderoso do que o outro (os tais "cultos de libertação"), ou que um cântico tem um poder especial de nos abençoar, ou até mesmo que Deus ouve mais a oração do pastor do que a deles; a Bíblia, Palavra de Deus e autoridade máxima na vida de Seus filhos, condena estas posturas, e a escravidão a que elas conduzem.

A morte vicária (substitutiva) de Cristo na cruz removeu toda a condenação que havia contra nós (Gálatas 3:13), e pela fé em Seu sacrifício, somos livres (Colossenses 2:13 - 15; João 8:36). Portanto, "tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo. Pois em Cristo habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo o poder e autoridade, vocês receberam a plenitude." (Colossenses 2:8 - 10).


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Referências bibliográficas

ELWELL, Walter A. “Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã” – Tradução de Gordon Chown - Ed. Vida Nova – 1ª edição, reimpressão em voluem único, 2009 – volume 2, pg. 130; volume 3, página 331

Dicionário Prático da edição ecumênica da Bíblia Católica, enciclopédia Barsa, 1972, pg. 241

CAIRNS, Earle E. “O cristianismo através dos séculos” – Ed. Vida Nova – tradução de Israel Belo de Azevedo – 3ª edição, 2008 – pg. 262



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