UBE Blogs

UBE Blogs

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Série de Estudos sobre o Livro de Apocalipse - introdução

por: José Augusto de Oliveira Maia
07.08.2014







A partir deste texto, estaremos apresentando uma série de estudos bíblicos baseados no Livro do Apocalipse; esta série foi primeiramente estudada na Igreja Batista da Lapa, em São Paulo, no ano de 2.008, com base no comentário bíblico de George Ladd, publicado pela Editora Vida na série Cultura Bíblica.

O Apocalipse do Apóstolo João é um livro que contém inúmeras figuras, algumas de difícil interpretação; sendo assim, não é prudente tentar interpretar o significado delas isoladamente, o que pode induzir o leitor a erro; o caminho mais seguro é concentrar-se na mensagem fundamental do livro, e interpretar suas figuras de modo conjunto e contextualizado no próprio texto do livro, bem como com toda a Bíblia.

Considerações iniciais sobre o Livro de Apocalipse

Tradicionalmente, o Livro do Apocalipse, presente nas Bíblias aceitas tanto por católicos quanto por evangélicos, é atribuído ao apóstolo de Jesus Cristo chamado João, filho de um homem chamado Zebedeu. O Apocalipse foi escrito por volta do ano 95 d. C., quando Domiciano era imperador romano; o ambiente não era muito positivo para os cristãos daquele final do primeiro século, pois eram perseguidos pelas autoridades do governo; por conta desta perseguição, João estava preso em uma ilha do Mar Mediterrâneo, chamada Patmos (veja Apocalipse 1:9).

No primeiro capítulo, João dirige-se a sete igrejas localizadas em sete cidades na região da Ásia Menor, onde hoje é a Turquia; ele dedica este trabalho como uma mensagem especial a elas (Apocalipse 1:4 - 8), que receberão também uma correspondência individual, que consta no próprio Apocalipse.

Sete cartas para sete igrejas

A primeira carta, dirigida à igreja da cidade de Éfeso, mostra-nos uma igreja muito zelosa pelos ensinos da fé cristã, e que suportou uma grande perseguição (Apocalipse 2:1 a 3); sobre a repreensão de ter abandonado seu primeiro amor (Apocalipse 2:4), podemos ter uma ideia de como esta igreja fora mais fervorosa antes do que na época em que João escreve, olhando alguns trechos de outra carta escrita a eles, pelo apóstolo Paulo, por volta do ano 62 d. C. (Efésios 1:5; 2:11 a 13, 19, 20; 4:1 a 3, 25).

Sobre os nicolaítas presentes nesta igreja, eram pessoas que, apesar de se reunirem com aquela comunidade cristã, praticavam a prostituição, dizendo que isso não era pecado, e queriam ensinar outras pessoas daquela comunidade a fazerem a mesma coisa. Aqueles da igreja em Éfeso que eram cristãos verdadeiros odiavam esta práticas (Apocalipse 2:6).(*)

A segunda carta, dirigida à igreja da cidade de Esmirna, fala a uma igreja que recebeu muitas graças da parte de Deus (Apocalipse 2:9); é mais uma igreja que suportou fielmente a perseguição; a comunidade é estimulada a permanecer fiel até a morte, mesmo debaixo da violenta perseguição que continuaria sofrendo (Apocalipse 2:10); o bispo daquela igreja, Policarpo, foi martirizado no ano 155 d. C..

A igreja da cidade de Pérgamo, a quem João dirige sua terceira carta, era mais um exemplo de uma comunidade cristã fiel a Deus, apesar da perseguição; também tinha em seu meio nicolaítas, e pessoas que ofereciam sacrifícios aos deuses pagãos romanos (Apocalipse 2:12 a 17).

Os nicolaítas eram uma presença negativa tanto em Éfeso quanto em Pérgamo, onde encontramos a presença dos seguidores de Balaão, praticantes da idolatria e de imoralidades sexuais; no caso específico de Pérgamo, parece que as práticas dos dois grupos se assemelhavam, conforme II Pedro 2:9 - 22.

Historicamente, Eusébio, bispo de Cesareia (270 - 340), cita os nicolaítas em sua obra "História Eclesiástica", escrita no século IV, fazendo referência a Clemente de Alexandria (155 - 225), apologeta cristão, que em sua obra "Stromateis" diz que Nicolau, diácono da igreja (Atos 6:5), teria entregue sua esposa à prostituição; Eusébio afirma que outros seguiram sua prática em prostituição, daí serem chamados de nicolaítas; ainda segundo Eusébio, tal grupo durou pouco tempo, e as informações disponíveis são escassas.

F. F. Bruce, em seu "Comentário Bíblico NVI", interpreta literalmente "nicolaítas" como "seguidores de Nicolau", mas considera o Nicolau diácono apenas como uma hipótese levantada não só por Clemente de Alexandria, mas também por Irineu (130 - 200); sobre as práticas do grupo, "aparentemente eles afrouxaram as condições estabelecidas pela carta apostólica de Atos 15:20, 29", relativa à idolatria, à imoralidade sexual, e a comer carne com sangue; tais práticas podem ser comparadas em Apocalipse 2:14, 15.

Em sua quarta carta, dirigida à igreja da cidade de Tiatira, João elogia a igreja como uma comunidade fiel e esforçada; infelizmente, também era perturbada pelos nicolaítas e por outros falsos cristãos, e por isso, eles receberam a ordem de se manterem fiéis aos ensinos cristãos que tinham recebido (Apocalipse 2:18 a 29).

Ao contrário das cartas anteriores, a quinta carta, dirigida à igreja de Sardes, mostra uma igreja diferente das outras; apesar de aquela comunidade ter uma boa fama entre os cristãos, a palavra de Deus a ela é de repreensão, pois ela não é fiel como deveria ser; isso mostra que o julgamento de Deus é diferente do nosso, pois Ele enxerga coisas que nós humanos não percebemos. A comunidade é advertida a arrepender-se, seguindo o exemplo de uns poucos membros que eram fiéis, aos quais é prometida a vida eterna com Deus e Seus anjos (Apocalipse 3:1 a 6).

A igreja da cidade de Filadélfia, a qual João escreve sua sexta carta, é uma igreja que mesmo em meio a muitas dificuldades, permaneceu fiel a Deus; falsos judeus que perseguiam aquela igreja receberam castigos de Deus; e a comunidade recebe a promessa da proteção de Deus, e um estímulo a permanecer no Seu caminho (Apocalipse 3:7 a 13).

Já na cidade de Laodiceia, temos uma comunidade que, apesar de se chamar cristã, vive enganando a si mesma, mas não engana a Deus; por isso, os membros daquela comunidade são advertidos a mudar de vida e serem fiéis a Deus (Apocalipse 3:14 a 22).

O conjunto das cartas escritas a estas igrejas reflete a mensagem central do Apocalipse; um juízo de Deus sobre toda a Criação é esperado, trazendo redenção final para a Igreja de Cristo, e um castigo definitivo para a Humanidade rebelde; sendo assim, aqueles que são fiéis a Deus são encorajados à perseverança, sob a promessa da felicidade eterna ao lado de Deus; em contraposição a isso, os rebeldes são exortados ao arrependimento e abandono de uma vida de pecado, convertendo-se a Deus, sob o risco de sofrerem a ira de Deus e a condenação eterna ao lago de fogo (Apocalipse 20:7 a 15).

(*) - sobre as práticas dos nicolaítas, consultei as seguintes fontes: LADD, George "Apocalipse - introdução e comentário", Ed. Vida Nova, 1ª ed. 1980, reimpressão 2011, pg. 32, 37 - 39; BRUCE, F. F. "Comentário Bíblico NVI", Ed. Vida Nova, pg. 2.223; SANTOS, João Batista Ribeiro "Dicionário Bíblico", Ed. Didática Paulista, 2006, pg. 343, 344


Copie o endereço abaixo, cole no seu browser e veja o lançamento do livro "APOCALIPSE - novos céus e nova terra"



http://www.clubedeautores.com.br/book/186241--A__P__O__C__A__L__I__P__S__E?topic=escatologia#.V9hB_B4rLIU

















2 comentários:

  1. Penso que antes de propormos um estudo no livro de Apocalipse (Revelação) é necessário uma pesquisa mais acurada sobe sua exegese, evitando que afirmemos algo que o texto não afirma.

    Em se tratando do que está dito em seu blog sobre os "nicolaítas" sua afirmação está desprovida de fundamento histórico e exegético.

    Aqui creio que posso lhe dar um suporte...

    Tendo por texto base APOCALIPSE 2.6 e 15

    nikh = vitória (no sentido de dominar)
    laos= ...o povo peculiar (de Israel ou Cristãos); gente, multidão;...do Século IV em diante, às vezes se refere ao leigo (conforme o grego moderno "laikos"= leigo, no sentido de povo comum)

    Portanto, o nome Nikolaitwn (nicolaítas) composto destas duas palavras tem o sentido de "vitória sobre o povo" ou "os que dominam o povo".

    i. A ORIGEM

    Esta era uma heresia que se formava já no fim da era apostólica, com os falsos mestres deturpando a Pureza da Doutrina de Cristo e seus Apóstolos. A doutrina nicolaíta concebeu a idéia de uma casta especial e superior na Igreja, ou seja, o chamado Clero. Indo além, formou-se a idéia de uma hierarquia eclesiástica dentro deste mesmo clero. Há uma grande probabilidade, lógica e historicamente, de que estes nicolaítas, dos quais muito pouco se sabe, sejam os formadores do pensamento Católico Romano e, portanto, seus antecessores. Eles estavam, no final do séc. I, infiltrados nas igrejas de Cristo como podemos ver no texto base. Evidentemente, este desejo de EXERCER PODER SOBRE O POVO, disseminou entre muitos homens de liderança nas igrejas, movidos pelo instinto carnal de DOMÍNIO, pela soberba e pela torpe ganância de posição e riquezas. Especialmente entre os pastores das grandes igrejas, nos grandes centros, com congregações numerosas, tornava-se uma tentação estabelecer uma ostentação de poder sobre o rebanho e outros pastores de rebanhos menores. Eis o porque de estabelecer-se o "centro da igreja" e o "trono do Papa", como o maioral e chefe máximo do Catolicismo em Roma. Sendo ela a capital e maior centro urbano de sua época, Roma permitia a que seus pastores nutrissem uma imagem de mais poderosos e importantes que os demais. É claro que, com o apoio de Constantino (no começo do séc. IV) definitivamente o Bispo de Roma conquistou esta supremacia. Não fora o Nicolaísmo, não existiria o erro de uma IGREJA UNIVERSAL, com sede em algum lugar. Nem mesmo a primeira Igreja, formada por Jesus pessoalmente, em Jerusalém, tinha autoridade sobre as demais. Veja em Atos 15, a postura da Igreja de Jerusalém com relação a Antioquia, como mãe que exorta a seu filho INDEPENDENTE num momento de necessidade, mas não considera justo lhe impor nada. Observe-se, ainda, o próprio falar dos Apóstolos Pedro e Tiago (que estavam em Jerusalém e não em Roma), como não exercem eles domínio sobre a Igreja, mas servem como conselheiros junto a Ela e com o Espírito Santo (vv.23,25 e 28)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Carlos Alberto Bachtold, obrigado por seu comentário e participação no blog; compreendo sua recomendação quanto à exegese do texto bíblico, e saiba que esta tem sido uma preocupação sempre presente para mim.

      Quanto à fundamentação histórica, verifiquei as minhas fontes, e descobri que o bispo Eusébio (270 – 340), em sua “História Eclesiástica”, refere-se aos nicolaítas citando Clemente de Alexandria (155 – 225), que em sua obra “Stromateis”, diz que o diácono Nicolau (Atos 6:5) teria entregue sua esposa à prostituição; Eusébio afirma que outros seguiram suas práticas, daí terem recebido o nome de nicolaítas.

      Sobre a base exegética, comparei comentaristas como George Ladd, F. F. Bruce, além de consultar o dicionário bíblico de João Batista Ribeiro Santos; e a percepção que tais autores tem é a mesma que retratei no estudo apresentado.

      E sobre a evolução dos fatos que levaram à centralização da autoridade no bispo de Roma, isto é, o papa, já seria assunto para outro comentário, visto que foi um processo um pouco mais complexo e longo.

      Encerro dizendo que, em atenção ao seu comentário, aperfeiçoei o texto do estudo, inserindo mais explicações e notas bibliográficas; obrigado, e Deus o abençoe.

      Excluir